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Escrevinhador barato, compositor, leitor voraz, cozinheiro, músico e bancário nas horas vagas

sábado, 24 de novembro de 2012

Repetitivas Bundas



Não sei vocês, mas eu, tanto no amor,quanto em tudo mais que resta da vida, não tenho medo de ser repetitivo.

É claro que em meu trabalho, em minha música, em minhas arriscadas aparições pelo mundo das letras, sempre que posso, tento inovar, tento trazer o máximo de minha criatividade a tona, bebendo de todas as fontes possíveis e acrescentando um tempero que é só meu, visando compor a receita, se não perfeita, pelo menos honesta, com a minha cara.

Disse isso porque me veio à mente uma cena já enormemente descrita pelos mais diversos cronistas, letristas, romancistas e que me fez cair em reflexão: qual o impacto das imperfeições femininas no encanto por elas trazido?

Parafraseando Martinho, já tive mulheres de todos os tipos. E me pego sempre pensando, com o perdão da palavra, naquelas bundas de cinema, de calendário de borracharia, que já passaram pela minha cama. Ah, que coisa linda, aquelas curvas, aquela cadência, aquela superfície quase de cerâmica (ébano?) sobre a qual poderíamos fazer as mais ricas e delicadas pastas para o mais exigente dono de rotisserie.

Mas, e aí? Eu me pergunto e te pergunto, arguto (e sofrido) leitor: e aí? E o depois? E o além? Como fica? É isto? Bastou? Já deu?

Questiono, pois, voltando às danadas que já transitaram pelas autopistas sinuosas das vias eulerísticas, as mulheres de verdade sempre tiveram uma maior participação acionária no conglomerado falido que é o meu peito. Aquelas que eu posso chamar de mulheres da minha vida, as que causaram impacto, as que me fizeram cair de 5, com o queixo ralado e feliz até quando sofria, todas elas, tinham o que se chama (acho que foi o Jabor) de amor em braile. Gostosura para se entender no escuro dos olhinhos fechados de alegria, no sofrimento do prazer, nos claros maduros e sem receios da meia luz ou na alegria da saída do banho sem toalha após o encontro de bom dia.

As imperfeições sobre as quais falei lá em cima são a intersecção entre minhas musas. São a obra em andamento dos amores surgidos sortidos e surtados ao longo destas mil décadas de estrada e tombos. Apesar de todas as bundas Kir Royal, as que me encantaram e sempre encantarão são mesmo as bundas Brahma, as ancas de Salinas, as pernas feijoada. As celulites, os culotes, as estrias são os ovos fritos com gema mole de Stanislaw. Dão tempero, gosto, sabor e alegria a qualquer prato.

Faço deste, pois, uma homenagem repetitiva repetitiva minha às imperfeições femininas, às cicatrizes de guerra de nossas Deusas (maiúscula, revisor), às próprias deidades que cruzam nossas vielas e as transformam em 9 de Júlio, em Presidente Vargas, enfim, lanternas para abrir nossos caminhos e bolsas para carregar nossos sonhos.

sábado, 27 de outubro de 2012

@ArnaldoBloch

Arnaldo Bloch nasceu no Rio de Janeiro em 1965, cidade onde vive. Escritor e jornalista, foi repórter da revista Manchete e correspondente em Paris. Trabalha desde 1993 no jornal O Globo, onde tem coluna semanal, tendo publicado o poema (espetacular) abaixo, que tive que trazer para cá - mesmo sem sua autorização - para dividir com vocês, caros amigos, além de render minhas homenagens. O poema também pode ser encontrado no link abaixo. Divirtam-se e bom fim de semana.

http://oglobo.globo.com/cultura/autorretrato-6544684

Autorretrato

Eu durmo muito. E viajo pouco. Tenho ciclos importunos.
Meu compasso é louco.
Eu vivo à noite. Eu morro de dia. Não pego sol. Minha praia é assepsia.
Eu não reparo nas roupas. Fico em casa aos sábados. Desconheço a balada. Não participo de nada.
Eu nunca dei porrada. Minha parada é parado. Meu enfado é um evento.
Minha festa é pensamento.
Vou ao cinema sozinho. Ponho roupas molambentas. Meu armário está vazio.
Meu lençol não tem fio.
Aprecio a temperança. Não estou pronto pra todas. Perdi o gosto pelo uísque.
Sou o rei dos tiques.
Tenho um quê paquidérmico. Leio o que desejo. Não sei quem são os bons.
E me entupo de sitcoms.
Vejo mais do que ajo. Não sei fazer rima. Minha novela é o silêncio.
Odeio adrenalina.
Não vejo vida nos limites. Gosto de felicidade pequena. Creio em ideais.
Mas nunca entro em cena.
Eu conheço a solidão. Abomino a culpa. Amadureço lentamente.
E tenho os sonhos de um cão.
Eu assassino a ansiedade. Tenho fé num átimo. Não sei onde fica a cidade.
E não acho nada o máximo.
Eu medito sem medo. Vejo a lua se pôr. Eu detesto acordar cedo.
Tenho teorias sobre o amor.
Eu aguardo o momento. Tenho os olhos no céu. Sem intento, sem desejo.
Só um ensejo, ao vento.
Meu tesão vem do vazio. Minha ideia vem do sono. Meu sexo vem de Marte.
Meu oceano fica à parte.
Eu vivo no cochilo. Meu grilo é um gracejo. Meu sorriso é um suspiro.
Meu choro, um cochicho.
Meu amor é só um trilho. Meu segredo é o mundo. Meu plano é a Terra.
Meu coração não bate. Erra.
Meu abraço é uma esfera. Meu retrato é uma lente. Meu pulmão é um rastro.
Minha palavra, demente.
Minha letra é um entalhe. Meu ar é de pedra. Desfaleço diariamente.
E ressuscito no detalhe.
Eu amo nas entrelinhas. Desejo quietude. Caso-me com o espírito.
E aborto a saúde.
Eu injeto o incerto. Eu engulo os dejetos. Sou o monstro das verdades.
Eu nunca estou certo.
Eu desprezo a cartilha. Psicografo a liberdade. Redesenho a armadilha.
E me esqueço, ao relento.
Eu sou o pior rebento. Sou o anjo relutante. O demônio sem veneno. Eu congelo o instante.
Eu morro de calor. Tenho horror ao esquadro. Meu quadro é a moldura.
Meu destino não tem cura.
Minha cúria é um átomo. Meu reino é fogo fátuo. Eu durmo muito tarde.
Meu rumo arde.
Minha insônia é sônica. Meu despertar é um rugido. Eu ronco acordado.
Sou mudo, bastardo.
Tenho maus modos à mesa. Faço barulhos absurdos. Sonho com lugares cíclicos.
E rejeito o absoluto.
Vejo balões no infinito. Suspeito do 8 e 80. Disco 0800. E ouço o terrível grito.
Meu desespero é uma reta. Minha alegria, uma seta. Meu objetivo é um espirro.
Meu acerto é o desterro.
Meu desvio é marasmo. Meu pasmo é o óbvio. Meu despertar é um espasmo.
Meu orgasmo não se inscreve.
Meu voo é uma hérnia. Minha queda arremete. Meu corpo é um espaguete.
E meu íntimo, uma úlcera.
Meu nascimento é um fosso. Minha cultura é um vácuo. Meu discurso, um caroço.
E meu rosto, um número.
Meu gosto é roxo. Meu gesto é coxo. Meu olho é uma lágrima.
Que não corre desde o útero.
Meu socorro é um corvo. Minha persona, um cachorro. Minha tristeza é meu nome.
E minha fome, informe.
Minha sorte é um trovão. Tenho medo de avião. Sou aquele que não vem.
Não cheguei, não fui, não sei.
Eu vim de mim. Não trago novidades. Eu perdi a referência.
Nem sei qual é minha idade.
Minha música é um rabisco. Meu caderno é imundo. Meu caráter corre risco.
E minhas mãos escorrem, fundo.
Minha alma é um órgão. Minha palavra, um acórdão. Meu altar não tem assento.
Estou no limiar do tempo.
Minha pele nada expele. Meu espelho não me enxerga. Meu ouvido olvidou-se.
E meu nariz não cheira.
Meu passado não tem eira. Meu futuro é um furo. Estou à beira da beira.
Meu abismo é um muro.
Eu não tenho nenhum ego. Meu inconsciente ruiu. Não passo de um cego.
Que o acaso pariu.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Até o Super Man...



Na edição nº 13 da próxima revista Superman a ser publicada nos EUA, o mítico herói da capa vermelha decide largar o jornalismo formal. Por não concordar com os rumos editoriais do Planeta Diário, Clark Kent abandona o matutino e passará a publicar em um blog. Segundo o autor, ele está mais para criar um novo Huffington Post do que procurar emprego em outro veículo.

Tirei a notícia de um post feito por um usuário do (ótimo!) blog do Nassif

Seguem abaixo os links das notícias. Divirtam-se.

No Mashable

No Bluebus

No Bem Paraná

No Último Segundo

O que é a tua casa???

Já repararam com que força nos sentimos fracos quando estamos em nossa casa? Como nos bastamos? Acho bastante injusta a pouca relevância que se dá à palavra "lar" em nosso tão amado português. 

Cá estou eu, curtindo uma receita nova de café (depois conto, ok?), ouvindo um disquinho de Compay Segundo (lembra Mariana Santos?), sentadinho numa poltroninha que já foi do velho Tonico nos seus últimos dias, mirando meus livrinhos e meus brinquedos e, apesar de morar em uma das cidades mais maravilhosas do planeta, não tenho tesão algum em sair daqui hoje.

Quando conseguimos encontrar um lugarzinho para chamar de nosso, mesmo que as paredes sejam de outrem, somos suficientes. Somos mais.

E o assombroso em morar no Rio (ou em São Paulo, Porto Alegre, Nova York, Bogotá ou Paris) é que raramente damos valor a isso, nesta vida atribulada a que fomos enredados - voluntariamente ou não. Temos sempre que estar super dispostos à balada, ao bar da moda, ao melhor restaurante, à última dos impressionistas franceses, ao quiosque da praia, ao mais novo DJ canadense ou à novidade da música argelina; sempre dispostos, de pau duro, encantados com o escritor hypster do momento, tendo-o lido ou não.

A casa da gente, por mais que não confessemos, é como a mulher amada: não sabemos o porque de a amarmos e estamos sempre insatisfeitos com isso. Sempre achamos que a gostosa do outro lado da rua é a melhor escolha, que a cerveja do bar é mais gelada, que o clichê da grama é verdade, que a atriz nua da peça será a melhor trepada da história.

Minha casa é meu bunker. É o abrigo antibombas (junto ou separado, reforma?) onde reúno meus amigos, seus amigos, seus conhecidos, aprendo a ouvir minha velha coroa resumindo como a novela anterior era ótima e como esta promete ser melhor ainda. É um santuário da diáspora petropolitana, onde deságuo o rio de incompreensões que saltam da alma.

Nesta tarde, que já vai virando noite, percebo como sou um bobo de não passar mais tempo em casa. E com isto vou aprendendo também a pensar na gostosa que por vezes a habita, vendo o quão verde é seu capim ao pegar uma breja vestida em seus óculos lindos.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Apocalipse em 2012???

Se vai acabar ou não o mundo, eu não sei. Mas o russo Andrew Tarusov (www.tarusov.blogspot.com) imaginou um meio divertido de fazermos nossa contagem regressiva. Um calendário de pin-ups baseado em ilustrações de Gil Elvgren para este ano. Adorei!!! Divirtam-se!!!



Benditas sejam as moças que pedem gostoso

Um  dos meus favoritos


Para os que navegam por aqui ou por outras paragens da blogosfera, este cabra-da-peste que, como bom pernambucano, migrou para São São Paulo só para poder sentir saudades sinceras daquela terra de alguém, plantada entre a Torre Malakoff e a varanda do sobrado de Alceu, ele mesmo, Xico Sá, não deve ser novidade. mas para os que ainda não o conhecem, faço questão de compartir uma bela crônica dele, publicada em seu blog, o http://xicosa.blogfolha.uol.com.br/, hoje pela manhã. Ou aqui ou lá, vale a pena. Evoé, Xico.


Benditas sejam as moças que pedem gostoso



Depois da vadiagem e das cinzas, final de semana inteiro de encanto radical e devoção às moças aqui no blog. Benditas sejam as moças, meu caro Joaquim Ferreira dos Santos.
Depois do choro em público, como vimos no post anterior, enumeramos uma outra grande virtude de uma fêmea: a arte de pedir.
A pedido de uma delas, aliás, uma linda afilhada de Balzac, é que republico esta crônica das antigas, texto desconhecido dos meus mais novos leitores.
Como ia dizendo, como elas pedem gostoso.
Como elas são boas nisso.
Resistir, quem há de?
Um simples “posso pegar essa cadeira, moço?” vira um épico, noooosa!
É o jeito de pedir, o ritmo safado da interrogação, a certeza de um “sim” estampado na covinha do sorriso.
Quantos segredos se escondem na covinha de uma mulher.
Pede que eu dou.
Pede todas as jóias da Tiffany´s, minha bonequinha de luxo!
Estou pedindo: pede!
Eu imploro, eu lhe peço todos os seus pedidos mais difíceis.
Pede todos os vestidos originais de Yves Saint Laurent. Todas as bolsas caras e metidas da Chanel ou Louis Vuitton? Pede que eu compro nem que seja uma pirata no camelô.
Não me pede nada simples, faz favor.
Já que vai pedir, que peça alto. Você merece.
Como é lindo uma mulher pedindo o impossível, o que não está ao alcance, o que não está dentro das nossas posses.
Podemos não ter onde cair morto, mas damos um jeito, um truque, um cheque sem fundos.
Até aqueles pedidos silenciosos, quando amarra a fitinha do Senhor do Bonfim no braço, são lindamente barulhentos.
Homem que é homem vira o gênio da lâmpada diante de uma mulher que pede o impossível.
Ah, quero o batom vermelho dos teus pedidos mais obscenos. É Wando que se recebe.
Quero o gloss renovado de todas as vezes que me pede para fazer um pedido, assim, quase sussurrando no ouvido: “Amor, posso te pedir uma coisa? Posso mesmo?”
Um castelo na Inglaterra?
Sim, eu dou na hora.
Que o Corinthians seja campeão da Libertadores?
Sim, eu opero o milagre.
Como no pára-choque, o que você pede chorando que não faço sorrindo?!
Um papel de estrela no novo filme de Almodóvar?
Deixa comigo que já tomo um drinque com ele e adiós.
Pede, benzinho, pede tudo.
Que eu largue a boemia, pare de beber e me regenere?
Pede, minha amada, que o amor tudo pode, por você cumpro as promessas de todos sambas de regenerados.
Que eu suba na pedreira Paulo Leminski, em Curitiba, e declame os mais lindos poemas de amor verdadeiro?
Só se for agora, estou indo.
Os melhores cremes da Lancôme? Vou a Paris agora, nem que seja a nado.
Eu lhe peço, me pede.
Não pede mimos baratos… Pede ATENÇÃO, por exemplo, a mercadoria fora de catálogo e a mais cara do mundo no momento.

Pitadas de Itamar Assumpção

Para os que não conhecem este Negro Maldito, paulista de Tietê e falecido em 2003, seguem abaixo algumas pitadas de sua obra de exímio letrista e melodista. Um grande beijo.

Vá Cuidar da Sua Vida


Vá cuidar da sua vida
Diz o dito popular
Quem cuida da vida alheia
Da sua não pode cuidar
Crioulo cantando samba
Era coisa feia
Esse é negro é vagabundo
Joga ele na cadeia
Hoje o branco tá no samba
Quero ver como é que fica
Todo mundo bate palma
Quando ele toca cuíca
Vá cuidar...
Negro jogando pernada
Negro jogando rasteira
Todo mundo condenava
Uma simples brincadeira
E o negro deixou de tudo
Acreditou na besteira
Hoje só tem gente branca
Na escola de capoeira
Vá cuidar...
Negro falava de umbanda
Branco ficava cabreiro
Fica longe desse negro
Esse negro é feiticeiro
Hoje o preto vai à missa
E chega sempre primeiro
O branco vai pra macumba
Já é Babá de terreiro
Vá cuidar...


Sampa Midnight



Sampa midnight
Eu assessorado de mais dois chegados
Bartolomeu e Ptolomeu
Partimos pra comemorar
Não lembro o que numa boiate
Escabrosa noite
Deu blackout na Paulista
Breu no Trianon
Cadê o vão do museu, sumiu
Meu Deus do céu que escuridão
Três seres transparentes baixaram não sei de onde
Imobilizando a gente e gritando
Não somos gente
Brilhavam, não tinham dentes
Traziam cortantes tridentes incandescentes
Nas frontes três chifres
Falavam rapidamente com gestos intermitentes
Simultaneamente sons estridentes incríveis
Sampa midnight
Eu chumbado com mais dois embriagados
Bartolomeu Ptolomeu
Quisemos levá-los prum bar
Mas qual o que, tomamos cheque-mate
Tenebrosa noite faltou light na Paulista
Breu no Trianon cadê a Consolação
Escureceu o museu onde está o chão
Um trio intrigante desceu do céu num instante
Chegou intimando a gente e berrando
Não somos gente
Cantaram de trás pra diante
Letras fortes, indecentes
Músicas bem excitantes
Provocantes rumbas funks
Cantaram de trás pra frente
Uns reggaes de breque chiques
Bastante pique sambas de roda chocantes
Sampa midnight
Eu assessorado de mais dois chegados
Bartolomeu Ptolomeu
Partimos para comemorar não lembro o que...


Mal Menor



Você vai notar olhando ao redor
Que sou dos males o menor
Pode até contar com o meu amor
Naquilo que seja lá o que for
Sofrer é antigo por isso que digo
Basta estar vivo pra correr perigo
Pra tudo conte comigo
Darei meu abrigo se quiser abrigo
Se for pra brigar por você também brigo
Pra tudo conte comigo
Você vai notar olhando ao redor
Que sou dos males o menor
Pode até contar com o meu amor
Naquilo que seja lá o que for
Minha flor de trigo meu licor de figo
Diga aonde irás que é pra lá que eu sigo
Pra tudo conte comigo
Eu quero estar contigo meu sexto sentido
Serei inimigo dos teus inimigos
Pra tudo conte comigo


Vida de Artista



Na vida sou passageiro
Eu também motorista
Fui trocador motorneiro
Antes de ascensorista
Tenho dom pra costureiro
Para datiloscopista
Com queda pra macumbeiro
Talento pra adventista
Agora sou mensageiro
Além de pára-quedista
Às vezes mezzo engenheiro
Mezzo psicanalista
Trejeito de batuqueiro
A veia de repentista
Já fui peão boiadeiro
Fui até tropicalista
Outrora fui bom goleiro
Hoje sou equilibrista
De dia sou cozinheiro
À noite sou massagista
Sou galo no meu terreiro
Nos outros abaixo a crista
Me calo feito mineiro
No mais vida de artista


Nêgo Dito



Meu nome é
Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé
Eu me invoco eu brigo
Eu faço e aconteço
Eu boto pra correr
Eu mato a cobra e mostro o pau
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé
Tenho o sangue quente
Não uso pente meu cabelo é ruim
Fui nascido em Tietê
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé
Não gosto de gente
Nem transo parente
Eu fui parido assim
Apaguei um no Paraná, pá, pá, pá, pá
Meu nome é Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé
Quando tô de lua
Me mando pra rua pra poder arrumar
Destranco a porta a pontapé
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé
Se tô tiririca
Tomos umas e outras pra baratinar
Arranco o rabo do satã
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé
Se chamá polícia
Eu viro uma onça
Eu quero matar
A boca espuma de ódio
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé
Se chamá polícia
Eu vou cortar tua cara
Vou retalhá-la com navalha


Vou tirar você do dicionário



Eu vou tirar do dicionário
A palavra você
Vou trocá-la em miúdos
Mudar meu vocabulário
E no seu lugar
Vou colocar outro absurdo
Eu vou tirar suas impressões digitais
Da minha pele
Tirar seu cheiro
Dos meus lençóis
O seu rosto do meu gosto
Eu vou tirar você de letra
Nem que tenha que inventar
Outra gramática
Eu vou tirar você de mim
Assim que descobrir
Com quantos "nãos" se faz um sim
Eu vou tirar o sentimento
Do meu pensamento
Sua imagem e semelhança
Vou parar o movimento
A qualquer momento
Procurar outra lembrança
Eu vou tirar, vou limar de vez sua voz
Dos meus ouvidos
Eu vou tirar você e eu de nós
O dito pelo não tido
Eu vou tirar você de letra
Nem que tenha que inventar
Outra gramática
Eu vou tirar você de mim
Assim que descobrir
Com quantos "nãos" se faz um sim


Que tal o impossível



Que tal se nós dois vivêssemos
Do jeito que nós quiséssemos
Sem nada que aborrecêsse-nos
Que tal se tudo tivéssemos
Que tal se realizássemos
Aquilo que nós sonhássemos
Maçãs macias comêssemos
Que tal se nós nos beijássemos

Que tal se nós dois dormíssemos
Olho no olho acordássemos
Que tal se nós felicíssimos
Que tal se nós dois voássemos
Que tal se nós dois pudéssemos
Aquilo que desejássemos
Que tal se nós dois tocássemos
E nós dois dançássemos

Que tal se nós dois partíssemos
Que tal se nós dois ficássemos
Que tal se ao máximo amássemos
Que tal se no céu morássemos

Que tal o impossível?
Que tal o impossível?


Dor elegante



Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Com se chegando atrasado
Chegasse mais adiante
Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha
Ópios, edens, analgésicos
Não me toquem nesse dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra


sábado, 11 de fevereiro de 2012

Recortes do sábado pré-carnavalesco


Exegese ao gozo incontido

Tão estranhamente me coloco diante deste balcão
A mesma rua, o mesmo copo, 
Diferente é a sensação.
Como passear de mãos dadas na areia
Ou adentrar um jardim de crisântemos.
Entro no recinto e colho sementes
Lembro do amigo
Apaixonado pela vida, como eu
Como o outro de quem me lembro
Quando rabisco estas linhas
Como o irmão que não está mais entre nós
Como eram belos aqueles olhos sempre vivos
Por sobre um sorriso de artista
Botticelli, Raphael... não, por demais renascentistas
Talvez Goya- somente pela luminosidade -,
Mas, certamente, jobiniano como eu,
Apaixonado pela vida.

Cariocas de nascença ou opção
Tendem a retratar a realidade de forma lírica
Nessa Paris tropical de onde retratamos nossa terra
Com base na melhor semiótica da prosa,
Seja em poesia,
Seja panfletária,
Criamos imagens dos ambientes lúdicos de ontem
Paisagens lúgubres entristecidas da realidade,
Confiando nesta cachaça chamada vida que
Quando ministrada com habilidade faz bem
E também
Pode nos matar com os excessos sentimentais
Sendo Mae West,
Se boa, boa,
Se má, melhor ainda

E viva a diferença do desbunde tupiniquim
Vivam com alegria a dignidade do artesão-economista-desleixado,
Milionário e libertário,
Radicado, agora ilhéu,
Rimbaud iconoclasta de verdades absolutas.
E viva o Sidnei Magal!!!
Viva o direito de não escrever do poeta fatigado!!!
Que vivam com fina alegria
A parte boa da saudade,
Que não amarga, purifica
(em Ipanema ou Curicica
No manguecaos de todo dia).

No teatro ou no cinema
Somos circenses nessa realidade
Na guerrilha da Central
Ou na do Mago Carequinha
De peito aberto, com os deuses a guardar,
Cordão de fé apoiado no esterno
E confiança – não sou nenhum experto.
Com as chagas da alma isentando-me do medo,
Vou em frente como bravo guerreiro.

É interessante o sentimento de impotência
Quando nos deparamos com o que nos é estranho
E isto desperta a curiosidade instantânea
Como também pejorativamente saber-se ciente
De que só sabemos quanto vale o que pesa
Quando falha a balança
Quando o prato cai no abismo
O dar valor à pressão no chope
Quando te servem com desdém
Ou a um belo conto de Fonseca
Quando assistimos ao noticiário

Pensar no nóis faiz pra mim comprar
E ponderar se a gente vamos a algum lugar:
Realidade fria a torpe
De nossas almas hipócritas.
Se isto é evolução da língua
Ou cena de “Finding Forrester”,
Discutir poesia russa
Ou Baudelaire falsificado,
Viva o Wall Street do fodido,
Agradeço de bom grado.
Ir morar numa colônia,
Pescando o que comer,
Sempre tem um bar aberto,
Um bom motivo pra beber.

Viva a catarse libertária
Da tentativa de escrever,
Como um parto, mui sagrado,
Sem pensar na tecnocracia da arte,
Do culto querendo que sua erudição fique pop,
Desprezando Câmara Cascudo,
Inundando o universo com citações não confiáveis,
Como as minhas nestas linhas.

Não quero ser maldito,
Não quero ser John Malkovich,
Não quero ser bonito,
Pura flor de azeviche,
Não quero ser erudito,
Pato preto no capim do vale
Ou Dorival cantando Jorge Ben numa roupa da Mulher do Padre.
Quero ser vômito,
Acordes na voz de Carlinhos Brown,
Sem ser cantor, apenas canto,
Sem ser títere ou profissional.
Apenas eu!
Andar nu entre os passantes,
Trepar com um homem se quiser,
Não ter que mostrar o que querem que seja,
Ou o que não quiserem.
Chegar ao gozo sem vaidade,
Com a imunidade de querer que a companhia
Seja o suficiente para o orgasmo total.
Não ser egoísta e não pensar nos outros,
Não ser o equilíbrio, o oposto ou o redundante
Status quo atual.
Não ter dinheiro pra nada
E não querer o querer querer tudo.

No que amo minha mulher,
Me orgulho desta afirmação.
Ocupo-me pouco com ela
Ou ela se preocupa com muito?

Sempre amei muito,
Confiando na filosofia botequiniana
Do “Quem ama, diz”.
E quem diz que adora,
Ou mente pro outro dizendo isto
Ou pra si, por medo de dizer aquilo.
Adorar é platonismo,
Amar é teatro No,
É pagode no subúrbio.

Difícil definir amor,
Não sendo ele, pois, um sentimento.
E amo de todas as formas, sem medo do depois.
Ele é uma mistura insólita de sentimentos,
Nem todos (gases) nobres, mas sinceros como o vento (gás?).
Quando amo,
Alegro-me, odeio, desejo, vivo, morro enraiveço,
Entristeço, devoto, me conheço, me abro, absorvo,
Dou, como enrubesço, consolo, agradeço,
Quero colo, enlouqueço!!!
Abro espaço pro subir no prédio
E me arremessar no sucesso que rima.
Não há tédio quando se diz que ama,
Não há sucesso quando se busca a fama.

Quero tocar em Montreaux e na FM ODia,
Despertar consciência crítica,
Fazer todo mundo pensar.
Não que queira que gostem de mim
Ou achem um tipo interessante.
Quero apenas do lodo tirar a (e atirar à) reflexão.

Amo quando lêem poesias,
Amo lê-las.
Amo textos que me façam odiar os autores.
Amo hai-kais – centelhas.
Amo Kátia Alves como alternativa suburbana
A Débora Colker...

Os que amo, sabem.
Os que não, não.
Quero bem a todos
E, por isso,
Passo sermão.
Amo a vida e quero que a amem;
Amo os vivos
E o disco do Chico César, que a eles dedica um romance.
Amo aquele que passa na rua
E me acena com reverência.
Mais ainda aquele que pára.
Para este, eu peço clemência.

Compartilhamentos

Mais uma do espiralado baú do Euler de Freitas.





Afogamento

A frase é essa:
O sozinho sou eu!
Isto mesmo,
Aquele que se autoentitulava o rei da solidão,
Para quem  o ser lhe bastava com sobras
E considerava a comuna simples tempero para o feijão com arroz cotidiano.
É mentira!
Sou mentira! Maior que a cantada por Roberto Ribeiro.

Sou que nem a mendiga sem métrica,
Declaro que estou em tormento,
Assino, aqui, a declaração de intenções da hecatombe implosiva.
Assumo que aquele coração que havia ficado em outra Muda para travestir-se de rocha,
Na realidade, era só gelo,
Que agora derrete em quenturas destiladas e ensimesmadas,
Independentes,
Complementares,
Que me fazem cogitar direcionar minha incoerência oblíqua para o nada,
Só para não fazê-las sofrer,
Só para poder doer em paz.
Pois hoje, invento verbos,
Não somente sinto dor,
Doo.
Inteiro,
Por mais uma vez não entender como sou possível.
Aliás,
Não sou impossível,
Sou apossível.
Amo em demasia com a mesma intensidade que consigo fazer sofrer.

Devia ser preso,
Interditado.
Melhor: compreendido,
Para que me explicassem que aperto é este,
Que vácuo de excessos é esse
Que me oblitera qual praga de madrinha
E me dá esse dom de Midas às avessas?

Dei um google no peito e só achei reminiscências,
Recidivas da mesma peça em outras montagens,
Nada inédito,
Bricolagem de mim mesmo, apenas.

Eu, que tenho tanto para dar (e tão pouco a oferecer),
Morro aqui,
Aos poucos,
Como afogado em útero materno,
Na amniótica situação
De amar demais.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Tempo, tempo, tempo, tempo

Estou hoje com fixação na idéia do tempo;
O tempo de partir,
O tempo de chorar,
O tempo de uma conversa
E as conversas sobre o tempo.
O tempo como era,
Do verbo "foi",
Ou como está, não sei ainda...
Hoje reina Kali (é o que parece)
Ou será que é a da delicadeza (como espero)
Yuga, Age, Temp, Tiempo, Time, Tempus

 - The time is the same ina a relative way, but you're older

É exatmente isto,
Tengo miedo de vivir y no saber amar,
Mirar el tiempo,
As rugas,
As horas,
Querendo ser Niemeyer, sabendo, contudo,
Que estou mais para Virginia Woolf.

É tudo recorrente,
Bumerangue nas mãos de crianças.

Razões? Quais?

A falta dele é cancerígena,
A má utilização também.
Não ter tempo mata os amores,
Por disciplina, deixamo-los morrerem.
Por ausência não se vê o seu desenrolar e se é negligente.

 - Há quanto tempo, hein?

Por que falamos isso?
Os endereços são os mesmos,
Não mudamos os números dos telefones
E,
Mesmo assim,

Quando foi a última vez que disse "eu te amo"?
Quando visitou aquele amigo distante?
Quando parou a correria do cotidiano para reparar nos transeuntes?

Eu, daqui, sigo a buscar um tempo para mim,
Lembrando Aldir e Cristóvão
E bebendo um pouquinho pra ter argumento.