Quem sou eu

Minha foto
Escrevinhador barato, compositor, leitor voraz, cozinheiro, músico e bancário nas horas vagas

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Estado de Espírito (parte 1)

Não estou no melhor dos meus dias. Portanto, resgatei uma coisinha velha, mas que sempre vem a calhar e descreve um pouquinho do meu estado. Um beijo a todos.


Camin Ando

Ando suave como flor
que flana ao sabor dos ventos,
ao dissabor dos tempos,
no compasso da espera
que clareia e mostra como.

Ando.

Caminho.
Trafego sob as copas das árvores,
sob espaços abertos,
sob
holofotes, cogumelos atômicos que,
teimam em me acompanhar.

Apesar disto,
mantenho-me sombra, espectro andaluz,
sósia de Spirit tupiniquim,
trôpego das bodegas,
falando a língua do pombo,
bradando no mais puro carioquês o que sou:
tripanossoma negro a desafiar os tons champanhe pastel dos
                                                          insossos meios termos  de plantão.

De difícil digestão
– boeuf bourguignon de puro acém metafísico -
mostro-me mestre na arte de não ter coerência.

E,
também,
na da auto destruição e
na da auto comiseração.

Entretanto, como diria o poeta,
sou um teórico,

boêmio das tentativas circulares,
das fraternidades pueris mais maduras.
Assim vou
desistindo da erudição para estocar de vez com o florete da ironia,
                                                           fina lâmina de pungência rivelínica,
que nos jardins suspensos de minha existência
permitiram que caminhasse com a excelência primaveril
de ir ao seu encontro e voltar inteiro, apesar de escoriado.

Ando, portanto.
E por tanto.
E para tanto.
E paralelo.
E paralítico,
parafraseio,
Lavoisier de carteirinha – número baixo, por favor – que sou,
Em criações que, de mim, tem apenas a própria criação.
A mal criação de criança rebelde,
a mal versação do litígio entre o mim e o senão.

Ando tanto e, de tanto andar,
tenho um calo que irrita.
O sapato sempre a apertar,
é muita birita.

Mas continuo andando,
lento, constante
– no caminho, leia-se, apesar de sua inconstância -
porém, perdido em meus achados,
toco de bosta solta em rodamoinhos pluviais,
em catarses controladas,
em amores com receituário azul.

Dividindo loucuras como quem chora no balcão,
como quem tem o garçom Jair como melhor amigo da última
                                                                                                      semana,
como quem se apieda da grama pisada
e odeia os velhinhos a alimentar os arrulhos dos ratos voadores.

Lembro sempre de Candeia quando saio por aí a procurar.
Quase nunca consigo rir
e tampouco consigo chorar.
A golfada definitiva que quero dar, não vem.
O chiclete de bílis que teima em não perder o gosto,
o cheiro do intestino do mundo que se mantém arraigado em minhas 
                                                          tão cansadas e castigadas narinas,
todos eles me perseguem, rumo ao infinito,
nesta jornada diuturna
no esforço hercúleo de não desandar,
de andar com fé até encontrar com Deus para passar-lhe uma 
                                                                                            descompostura.
Building my own path,
seja na língua do Poe,
seja na do Rosa,
seja naquela bonita de Rimbaud
ou naquela do calhorda do Llosa.

Preferi que fosse na minha,
para externar o que de mim é tudo neste caminho-poema de mau 
                                                                                    gosto que é resumo,
que é síntese em bricolagem,
acrilic on canvas por sobre madeira da minha cara-de-pau.

Aqui,
tomando seu tempo
para contar de algumas viagens paradas e em movimento,
de alguns que fui e outros que o medo despista,
de alguns que vejo e outros que já foram.

Caminho na minha, com Caminha, com a caninha Praianinha.

Assim como nas andanças de Caymmi, Tapajós e Souto, vi tanta areia, andei,
e ainda mantenho no peito uma saudade imensa.
Mas sigo em frente,
cromático só para irritar os dicotômicos do bem, do mal, do céu, do 
                                                                                                         inferno...

Sou todos eles, neste caminhar,
sou todos eus neste andaramar,
sou andar,
sou cobertura reservada no Pinel,
solto e liberto em minha camisa-de-força,
sou moça, sou puta.
Doença também
e (por que não?) cura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário