Exegese
ao gozo incontido
Tão
estranhamente me coloco diante deste balcão
A
mesma rua, o mesmo copo,
Diferente é a sensação.
Como
passear de mãos dadas na areia
Ou
adentrar um jardim de crisântemos.
Entro
no recinto e colho sementes
Lembro
do amigo
Apaixonado
pela vida, como eu
Como
o outro de quem me lembro
Quando
rabisco estas linhas
Como
o irmão que não está mais entre nós
Como
eram belos aqueles olhos sempre vivos
Por
sobre um sorriso de artista
Botticelli,
Raphael... não, por demais renascentistas
Talvez
Goya- somente pela luminosidade -,
Mas,
certamente, jobiniano como eu,
Apaixonado
pela vida.
Cariocas
de nascença ou opção
Tendem
a retratar a realidade de forma lírica
Nessa
Paris tropical de onde retratamos nossa terra
Com
base na melhor semiótica da prosa,
Seja
em poesia,
Seja
panfletária,
Criamos
imagens dos ambientes lúdicos de ontem
Paisagens
lúgubres entristecidas da realidade,
Confiando
nesta cachaça chamada vida que
Quando
ministrada com habilidade faz bem
E
também
Pode
nos matar com os excessos sentimentais
Sendo
Mae West,
Se
boa, boa,
Se
má, melhor ainda
E
viva a diferença do desbunde tupiniquim
Vivam
com alegria a dignidade do artesão-economista-desleixado,
Milionário
e libertário,
Radicado,
agora ilhéu,
Rimbaud
iconoclasta de verdades absolutas.
E
viva o Sidnei Magal!!!
Viva
o direito de não escrever do poeta fatigado!!!
Que
vivam com fina alegria
A
parte boa da saudade,
Que
não amarga, purifica
(em
Ipanema ou Curicica
No
manguecaos de todo dia).
No
teatro ou no cinema
Somos
circenses nessa realidade
Na
guerrilha da Central
Ou
na do Mago Carequinha
De
peito aberto, com os deuses a guardar,
Cordão
de fé apoiado no esterno
E
confiança – não sou nenhum experto.
Com
as chagas da alma isentando-me do medo,
Vou
em frente como bravo guerreiro.
É
interessante o sentimento de impotência
Quando
nos deparamos com o que nos é estranho
E
isto desperta a curiosidade instantânea
Como
também pejorativamente saber-se ciente
De
que só sabemos quanto vale o que pesa
Quando
falha a balança
Quando
o prato cai no abismo
O
dar valor à pressão no chope
Quando
te servem com desdém
Ou
a um belo conto de Fonseca
Quando
assistimos ao noticiário
Pensar
no nóis faiz pra mim comprar
E
ponderar se a gente vamos a algum lugar:
Realidade
fria a torpe
De
nossas almas hipócritas.
Se
isto é evolução da língua
Ou
cena de “Finding Forrester”,
Discutir
poesia russa
Ou
Baudelaire falsificado,
Viva
o Wall Street do fodido,
Agradeço
de bom grado.
Ir
morar numa colônia,
Pescando
o que comer,
Sempre
tem um bar aberto,
Um
bom motivo pra beber.
Viva
a catarse libertária
Da
tentativa de escrever,
Como
um parto, mui sagrado,
Sem
pensar na tecnocracia da arte,
Do
culto querendo que sua erudição fique pop,
Desprezando
Câmara Cascudo,
Inundando
o universo com citações não confiáveis,
Como
as minhas nestas linhas.
Não
quero ser maldito,
Não
quero ser John Malkovich,
Não
quero ser bonito,
Pura
flor de azeviche,
Não
quero ser erudito,
Pato
preto no capim do vale
Ou
Dorival cantando Jorge Ben numa roupa da Mulher do Padre.
Quero
ser vômito,
Acordes
na voz de Carlinhos Brown,
Sem
ser cantor, apenas canto,
Sem
ser títere ou profissional.
Apenas
eu!
Andar
nu entre os passantes,
Trepar
com um homem se quiser,
Não
ter que mostrar o que querem que seja,
Ou
o que não quiserem.
Chegar
ao gozo sem vaidade,
Com
a imunidade de querer que a companhia
Seja
o suficiente para o orgasmo total.
Não
ser egoísta e não pensar nos outros,
Não
ser o equilíbrio, o oposto ou o redundante
Status
quo atual.
Não
ter dinheiro pra nada
E
não querer o querer querer tudo.
No
que amo minha mulher,
Me
orgulho desta afirmação.
Ocupo-me
pouco com ela
Ou
ela se preocupa com muito?
Sempre
amei muito,
Confiando
na filosofia botequiniana
Do
“Quem ama, diz”.
E
quem diz que adora,
Ou
mente pro outro dizendo isto
Ou
pra si, por medo de dizer aquilo.
Adorar
é platonismo,
Amar
é teatro No,
É
pagode no subúrbio.
Difícil
definir amor,
Não
sendo ele, pois, um sentimento.
E
amo de todas as formas, sem medo do depois.
Ele
é uma mistura insólita de sentimentos,
Nem
todos (gases) nobres, mas sinceros como o vento (gás?).
Quando
amo,
Alegro-me,
odeio, desejo, vivo, morro enraiveço,
Entristeço,
devoto, me conheço, me abro, absorvo,
Dou,
como enrubesço, consolo, agradeço,
Quero
colo, enlouqueço!!!
Abro
espaço pro subir no prédio
E
me arremessar no sucesso que rima.
Não
há tédio quando se diz que ama,
Não
há sucesso quando se busca a fama.
Quero
tocar em Montreaux e na FM ODia,
Despertar
consciência crítica,
Fazer
todo mundo pensar.
Não
que queira que gostem de mim
Ou
achem um tipo interessante.
Quero
apenas do lodo tirar a (e atirar à) reflexão.
Amo
quando lêem poesias,
Amo
lê-las.
Amo
textos que me façam odiar os autores.
Amo
hai-kais – centelhas.
Amo
Kátia Alves como alternativa suburbana
A
Débora Colker...
Os
que amo, sabem.
Os
que não, não.
Quero
bem a todos
E,
por isso,
Passo
sermão.
Amo
a vida e quero que a amem;
Amo
os vivos
E
o disco do Chico César, que a eles dedica um romance.
Amo
aquele que passa na rua
E
me acena com reverência.
Mais
ainda aquele que pára.
Para este, eu peço clemência.
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