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Escrevinhador barato, compositor, leitor voraz, cozinheiro, músico e bancário nas horas vagas

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Recortes do sábado pré-carnavalesco


Exegese ao gozo incontido

Tão estranhamente me coloco diante deste balcão
A mesma rua, o mesmo copo, 
Diferente é a sensação.
Como passear de mãos dadas na areia
Ou adentrar um jardim de crisântemos.
Entro no recinto e colho sementes
Lembro do amigo
Apaixonado pela vida, como eu
Como o outro de quem me lembro
Quando rabisco estas linhas
Como o irmão que não está mais entre nós
Como eram belos aqueles olhos sempre vivos
Por sobre um sorriso de artista
Botticelli, Raphael... não, por demais renascentistas
Talvez Goya- somente pela luminosidade -,
Mas, certamente, jobiniano como eu,
Apaixonado pela vida.

Cariocas de nascença ou opção
Tendem a retratar a realidade de forma lírica
Nessa Paris tropical de onde retratamos nossa terra
Com base na melhor semiótica da prosa,
Seja em poesia,
Seja panfletária,
Criamos imagens dos ambientes lúdicos de ontem
Paisagens lúgubres entristecidas da realidade,
Confiando nesta cachaça chamada vida que
Quando ministrada com habilidade faz bem
E também
Pode nos matar com os excessos sentimentais
Sendo Mae West,
Se boa, boa,
Se má, melhor ainda

E viva a diferença do desbunde tupiniquim
Vivam com alegria a dignidade do artesão-economista-desleixado,
Milionário e libertário,
Radicado, agora ilhéu,
Rimbaud iconoclasta de verdades absolutas.
E viva o Sidnei Magal!!!
Viva o direito de não escrever do poeta fatigado!!!
Que vivam com fina alegria
A parte boa da saudade,
Que não amarga, purifica
(em Ipanema ou Curicica
No manguecaos de todo dia).

No teatro ou no cinema
Somos circenses nessa realidade
Na guerrilha da Central
Ou na do Mago Carequinha
De peito aberto, com os deuses a guardar,
Cordão de fé apoiado no esterno
E confiança – não sou nenhum experto.
Com as chagas da alma isentando-me do medo,
Vou em frente como bravo guerreiro.

É interessante o sentimento de impotência
Quando nos deparamos com o que nos é estranho
E isto desperta a curiosidade instantânea
Como também pejorativamente saber-se ciente
De que só sabemos quanto vale o que pesa
Quando falha a balança
Quando o prato cai no abismo
O dar valor à pressão no chope
Quando te servem com desdém
Ou a um belo conto de Fonseca
Quando assistimos ao noticiário

Pensar no nóis faiz pra mim comprar
E ponderar se a gente vamos a algum lugar:
Realidade fria a torpe
De nossas almas hipócritas.
Se isto é evolução da língua
Ou cena de “Finding Forrester”,
Discutir poesia russa
Ou Baudelaire falsificado,
Viva o Wall Street do fodido,
Agradeço de bom grado.
Ir morar numa colônia,
Pescando o que comer,
Sempre tem um bar aberto,
Um bom motivo pra beber.

Viva a catarse libertária
Da tentativa de escrever,
Como um parto, mui sagrado,
Sem pensar na tecnocracia da arte,
Do culto querendo que sua erudição fique pop,
Desprezando Câmara Cascudo,
Inundando o universo com citações não confiáveis,
Como as minhas nestas linhas.

Não quero ser maldito,
Não quero ser John Malkovich,
Não quero ser bonito,
Pura flor de azeviche,
Não quero ser erudito,
Pato preto no capim do vale
Ou Dorival cantando Jorge Ben numa roupa da Mulher do Padre.
Quero ser vômito,
Acordes na voz de Carlinhos Brown,
Sem ser cantor, apenas canto,
Sem ser títere ou profissional.
Apenas eu!
Andar nu entre os passantes,
Trepar com um homem se quiser,
Não ter que mostrar o que querem que seja,
Ou o que não quiserem.
Chegar ao gozo sem vaidade,
Com a imunidade de querer que a companhia
Seja o suficiente para o orgasmo total.
Não ser egoísta e não pensar nos outros,
Não ser o equilíbrio, o oposto ou o redundante
Status quo atual.
Não ter dinheiro pra nada
E não querer o querer querer tudo.

No que amo minha mulher,
Me orgulho desta afirmação.
Ocupo-me pouco com ela
Ou ela se preocupa com muito?

Sempre amei muito,
Confiando na filosofia botequiniana
Do “Quem ama, diz”.
E quem diz que adora,
Ou mente pro outro dizendo isto
Ou pra si, por medo de dizer aquilo.
Adorar é platonismo,
Amar é teatro No,
É pagode no subúrbio.

Difícil definir amor,
Não sendo ele, pois, um sentimento.
E amo de todas as formas, sem medo do depois.
Ele é uma mistura insólita de sentimentos,
Nem todos (gases) nobres, mas sinceros como o vento (gás?).
Quando amo,
Alegro-me, odeio, desejo, vivo, morro enraiveço,
Entristeço, devoto, me conheço, me abro, absorvo,
Dou, como enrubesço, consolo, agradeço,
Quero colo, enlouqueço!!!
Abro espaço pro subir no prédio
E me arremessar no sucesso que rima.
Não há tédio quando se diz que ama,
Não há sucesso quando se busca a fama.

Quero tocar em Montreaux e na FM ODia,
Despertar consciência crítica,
Fazer todo mundo pensar.
Não que queira que gostem de mim
Ou achem um tipo interessante.
Quero apenas do lodo tirar a (e atirar à) reflexão.

Amo quando lêem poesias,
Amo lê-las.
Amo textos que me façam odiar os autores.
Amo hai-kais – centelhas.
Amo Kátia Alves como alternativa suburbana
A Débora Colker...

Os que amo, sabem.
Os que não, não.
Quero bem a todos
E, por isso,
Passo sermão.
Amo a vida e quero que a amem;
Amo os vivos
E o disco do Chico César, que a eles dedica um romance.
Amo aquele que passa na rua
E me acena com reverência.
Mais ainda aquele que pára.
Para este, eu peço clemência.

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